sexta-feira, 17 de setembro de 2010

que falta faz

Que falta faz:
Aquela olhada sem graça, que você me dava;
Aquele beijo no rosto, quase sem gosto;
Aquele abraço apertado, meio calado;
Aquela falta de assunto.

Que falta faz:
Aquela noite dormida, que não dormimos;
Aquela mentira que contamos;
Aquela indiferença.

Que falta faz:
Você.

ode à liberdade

Que, despido das saudades,
que não me deixam em paz,
eu possa seguir nessa estrada,
sempre em frente, nunca para trás.

Que, despido das paixões,
as quais tento evitar,
eu possa ser só. Só meu.
E eu mesmo me bastar.

Que, eu não me lembre da onde
vim, nem aonde vou chegar.
Mas, que nunca deixe de seguir.
Sem jamais pensar em desistir.

E, por fim, que a vida me permita
ser sempre livre. Sem casa para morar,
porto para partir ou ninho para pousar.
E meu coração, seja sempre, de nenhum lugar.

desapego

Desapegar-me-ei.
Eu pensei.
Como farei?
Aí já não sei.
Mas, vou tentar,
e, se eu falhar,
tento outra vez.

Aos poucos eu aprendo,
à medida que tento.
E, breve, nem vou lembrar
O que é se apegar.

terça-feira, 8 de junho de 2010

fruto verde

Sou um fruto verde que, da árvore, quer cair.
Não quero, nem posso esperar o vento surgir
Para me levar. Não acredito nas leis naturais.
A única lei sou eu e minha vontade, não há mais.

Porque tenho que esperar o passar das horas
e o balançar dos galhos para ir embora?
Não. Não vou esperar. Preciso ir agora.
Quero o que me pertence, que está lá fora.

Não ligo se for pisado enquanto rolo na lama,
Quero arriscar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

o tédio

O tédio se repete.
Não para e me segue.
O tédio, eu nego.
Mas o tédio é cego.

O tédio, eu não quero.
Persegue-me e me tira
Da cama, que ira!
Não mereço o tédio.

O tédio é branco.
É essa folha, que limpa, ainda,
de branca vira cinza.
É o lápis, que com curvas pretas
Transforma minhas idéias em letras.

Branco é o tédio.
Entediante,
Entediado,
Entendido.
Entende a dor, o tédio.

domingo, 21 de março de 2010

Eu

Eu FINJO, minto, nego, falho,
Peco, não rezo, fujo, calo,
Corro, não ando, tento, tardo,
Espero, não penso, digo, falo.

Eu SINTO, não pondero, faço,
Desisto, tenho medo, encalho,
Levanto e me ergo, não paro,
Eu berro, grito, lato.

Não ouço calado,
Não carrego fardo.
Eu engano, traio,
Sou certo e errado.

Procuro, mas não acho.
Eu me perco, sem sono,
Eu me engano, eu sonho,
Eu me apaixono,

Eu amo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A hora

Vem chegando a hora esperada.
A hora que fiz tanta questão que chegasse.
Mas, que agora não sei bem.

Talvez seja a hora desesperada,
Que retrata meu desespero em viver.
Que vai me sugar, me devorar.

A hora que vai me arrastar para outros mares
que não esses, que tenho por tanto
tempo navegado no mais sólido dos barcos.

Sim, tenho urgência em viver.
Sei que é hora de trocar essa sólida navegação
por uma canoa de palha feita a mão.
Sei que preciso ir.

Tenho mais alguns dias,
que não significam mais nada
a não ser uma espera.

Espera pela hora.
Pela hora desesperada.